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Fantasma da Orquestra

A melancolia crónica de uma pseudo violinista ansiosa, agora na terra das alfaces frequentando a cena musical na Berna.

A melancolia crónica de uma pseudo violinista ansiosa, agora na terra das alfaces frequentando a cena musical na Berna.

E se fosses refugiado, o que é que levavas na mochila?

Por causa da crise que se anda a gerar à volta da migração de refugiados da Síria sei que puseram esta questão em escolas. É um bom exercício, este de nos tentarmos pôr na situação do outro. Abre um bocadinho a mente. É claro que também foram perguntar isto a vedetas, e naturalmente a coisa descambou.

Porque eu fui tocar num concerto especialmente para refugiados, com toda uma conversa de solidariedade à volta disso, e ainda ficar noutra cidade por uma noite, acabei por pensar nisso.

 

Primeiro, a mochila do refugiado é a supôr que o refugiado tem tempo de arranjar a mochila com o que quer, ou acha que vai precisar, e sair de casa com ela. Na verdade, penso que uma boa parte das pessoas sai de casa, ou do que resta da casa, com a roupa que tem no corpo e o que pôde agarrar em segundos. Não há tempo; uma bomba não cai com um aviso de uma hora antes. Segundo, uma pessoa que faça campismo, especialmente de tenda, ou escutismo, tem uma noção totalmente diferente do que levar.

Portanto, agora eu; os essenciais, que mesmo numa situação procuro ter comigo: isqueiro, canivete, um tira-caricas incorporado num corta-unhas, uma lanterna pequenina, a carteira com dinheiro e documentos (mesmo que viesse a situação de já nada valer nada, porque acontece certamente), o telemóvel (para uma pessoa na sociedade de hoje, quer se queira admitir ou não, a primeira coisa em que pensa para se manter contactável é o telemóvel), carregador do telemóvel (porém, há muitas hipóteses de não haver tomada para ligar... um refugiado não vai propriamente para essas comodidades todas).

Procuraria levar uma manta daquelas polares. Procuraria levar comida. Se calhar, em família, acabaríamos por combinar e em quatro mochilas um levava latas de atum, outro umas latas de feijão, ou comida rápida em lata de conserva. Provavelmente agarrava num casaco também para tentar levar. O meu pai sugeriu logo uma lona e cordel, para fazer um abrigo simples e rápido. E o mini conjunto de tachinhos, pratos e copos de campismo, encaixados de forma a que fica só uma caixinha redonda.

E depois, é claro, as variáveis. O gosto da pessoa. Os pequenos tesouros que só o próprio entenderá que não os pode deixar ficar para trás. Não vejo nada de escabroso se a pessoa quiser levar a máquina fotográfica, porque, pensando bem, eu quereria levar a tablet. Talvez, se calhar, também eu tiraria fotografias. Um caderninho, ou bloco de notas, e uma caneta. O meu livro favorito. O violino (e se eu era bem pessoa para agarrar no estojo da coisa mais valiosa, preciosa, que tenho em casa, era... não o poderia, nunca, deixar para trás). Há quem tenha de valioso as jóias que possuí, e as leve. Cada um com o seu.

Com isto tudo, provavelmente é preciso uma daquelas mochilas enormes de caminhada da Quechua. E o peso deve tirar a vontade a qualquer um de a levar às costas. Muito provavelmente isto é tudo imprático. Não deixa de ser um bom exercício mental, nem que seja para tentar avaliar o que é essencial nisto tudo.

 

Mas, conselho meu, mantenham na mala o isqueiro, canivete e corta-unhas com tira caricas incluido. Parecendo que não, dá muito jeito.

Conversas sobre o tempo #4

E pronto, começa a primavera, começam as alergias.

Este ano tenho uma novidade. Não só não respiro bem, como tenho comichão e borbulhonas por todo o lado. Belo.

 

Parece que vamos repetir o concerto do Música sem Fronteiras aqui na terra e no Porto. Será que é desta que eu finalmente vou ao Porto? Será que conseguimos fazer o concerto não na Arena ou assustamos a Joana Carneiro e depois ela não gosta da minha terrinha? Será que é desta que eu consigo tirar uma foto com a Joana Carneiro? E quantas vezes mais direi eu o nome da maestrina neste blog?

Merdinhas Nº1

Há alturas em que músico é capaz de ser o bicho mais idiota e mesquinho à face da terra. Há alturas em que me apetece agarrar nas merdas da orquestra e da camerata e ir-me embora, que não estou para aturar as atitudes e as guerrinhas de ego que estalam lá no meio.

Em Lisboa não se conseguiram passar os dois dias sem apontar que fulana tem um ego estupidamente grande para a bela merda que era, a minha excelsa colega meteu o pé na argola a tentar rebaixar outra, isto tudo no ensaio geral. Ou seja, uma festa.

Ontem estivemos a forçar-nos a quase sete horas de ensaio a bater na mesma tecla por causa da camerata, no qual se chega sempre à brilhante conclusão que os culpados são sempre os mesmos. São as quatro meninas que são sempre as melhores, as únicas que prestam por mais erros que façam, e os outros não mandam uma para a caixa. Ou porque não têm as partituras (mesmo que afinal aqui a parva até as tivesse), ou porque são péssimas e exigem viragens de páginas impossíveis (mas a culpa será sempre aqui da idiota), ou porque não está a correr bem, e ao fim de quatro horas naquilo começamos todos a ficar irritados e passados uns com os outros, que já nem nos podemos falar.

 

E eu começo a ficar um bocadinho... farta? Farta de meninos e meninas com violinos caríssimos que se acham melhores que os outros? Farta de intriguinhas e guerrinhas entre uns e outros? Ou só cansada.

 

Chego a casa a más horas e apanho um ralhete da mãe porque ela acha que estive na borga.

 

(Mas eu sei que a culpa é minha. Afinal, fui eu que escolhi.)

Caríssimos senhores condutores de autocarros

Condutores de autocarros, vulgo chauffers, dos autocarros municipais, transportes rodoviários públicos e privados das várias cidades e universidades, Trevo, Carris, Expressos,...

 

Nunca, mas nunca mesmo, sequer sugiram a músicos transportar os violinos na bagageira. Não. E é um não muito grande. São instrumentos frágeis, de madeira antiga, de somas elevadas de valor. Não.

 

Estivemos uma hora a discutir com o condutor que se recusava a transportar violinos no compartimento por cima da cabeça. Especialmente contratado para irmos para um concerto. Até lhe espetarmos a legislação debaixo do nariz para ele ler.

Tenho de passar a andar com essa impressa e marcada na mala também, está visto.

 

No CCB

Devo dizer que as minhas idas a Lisboa para tocar em orquestra dão sempre fins de semana memoráveis, assim propícios para aquelas histórias para os netinhos, "olha, em Abril quando fui tocar ao..."; e também me rebentam sempre com a alça do estojo de violino (é o segundo, é sempre em Lisboa, e rebenta ao ombro para cair ao chão com estrondo, sempre...). Felizmente também posso dizer que os concertos correm-nos bem.

Eu ainda não tinha ido vez nenhuma ao CCB. Para uma alentejana do campo, o CCB é um sítio grande em Lisboa, muito conhecido, onde pisam os artistas mais conhecidos e orquestras, e é uma honra ir tocar lá (traduzindo, é uma espécie de Carnegie Hall português em ponto pequeno). E com a Joana Carneiro.

 

A coisa não correu mal. Para dizer a verdade, os ensaios até correram bem, apesar dos fornecedores das partituras não terem tido a noção que não se dão partituras de dupla face, porque já é lixado para quem vira a página passar uma e outra, quanto mais quando nos impingem um final de página onde nem sequer há pausas. No mail que mandaram quase que obrigavam todos os membros do sexo feminino a ir de vestido preto comprido, o que algumas de nós não tinha, e se houve quem fosse à pressa comprar um vestido, houve quem levasse uma saia comprida para usar com um top preto da Decathlon e um casaco para disfarçar (eu), e mais uma destas e mamam-me de calças que se lixam. Depois chegou-se ao ensaio geral e começou a batalha de egos, e aí é que as coisas descambam porque o pessoal anda para se foder uns aos outros (um conselho, uma orquestra nunca é um local pacífico e cheiinho de grandes amigos, a não ser que seja pequeníssima como a porra e sem fins lucrativos).

A Joana Carneiro é uma das maestrinas mais pro-activas com que já trabalhei. A maioria dos maestros que encontrei pela frente marca o compasso, o tempo, e as entradas. Esta mulher curte a música, vira-se para quem vai entrar e quem está a tocar o mais importante no momento, e incentiva os músicos, e explica o que quer com a expressão. O mais próximo que tive foi a professora de coro, que é só assim também uma cantora lírica conhecida e com grande vozeirão (Sandra Medeiros).

O grande auditório do CCB tem uma acústica excelente, e não se compara com outros lugares em que tenha tocado (não falo de igrejas em que toquei, porque igrejas são outro mundo à parte), daí que sim, foi uma daquelas oportunidades únicas.

 

E o concerto, para quem não ouviu, não foi ver e não vê o meu Instagram (que foi invadido por fotografias dos ensaios e concerto) foi muito bom.

 

(Diz-se que esteve lá o Presidente da República perseguido por 200 estudantes de música que não o largavam para fotografias, e ainda se pôs com uma lábia do caraças para as minhas colegas. Diz-se que sim.)

Notícia de última hora

Meus senhores, parece que sim, no próximo fim-de-semana e início de semana estarei no CCB a tocar. Diz que vai ser uma orquestra formada por alunos do ensino superior e com a Joana Carneiro (o ponto alto da coisa toda vai ser acrescentar ao currículo que já se tocou no CCB sob a direcção da Joana Carneiro).

Portanto, 17 e 18 estarei aí por Lisboa. Ena pá.

Orquestra #3

Acabei por não dizer nada, mas tivemos o primeiro concerto de orquestra do semestre no domingo passado (daqui a nada já passou uma semana, e eu sem dizer nada). Ah. Posso dizer que até foi um sucesso, apareceu pessoal para ir ver, temos vídeos da coisa no facebook, e é possível dizer que correu bem apesar dos mínimos desastres que aconteceram nas peças que não se ensaiaram antes.

 

É giro tocar com coro, mas ao mesmo tempo é uma chatisse porque estamos constantemente a ouvir para tocar piano, que o coro não é muito grande e tem de se ouvir. Uma das moças de canto tem um vozeirão de arrepiar os cabelinhos da nuca (a sério, eu ainda não tinha ouvido uma mulher com uma colocação de voz tão no ponto). Tocar com sopros/metais é não me ouvir nem a mim nem a mais ninguém, além de trombones e trompetes e trompas.

 

Há-de haver mais concertos.

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Fantasma

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Não é utilizado o novo acordo ortográfico, ou nenhum acordo ortográfico que tenha existido. De facto, aqui escreve-se pela grafia mais conhecida ou mais amiga da oralidade, inventam-se palavras e distorce-se a linguagem sempre que necessário.

A língua é viva.